3.11.12

Na fila do SUS

por Samuel Wendel

No dia 10 de setembro estava de folga do trabalho e fui a um hospital do SUS, Sistema Único de Saúde, acompanhar um parente. Essa unidade, localizada na Rua Tamandaré, zona sul da cidade de São Paulo, atende diversas especialidades, no nosso caso era um exame oftalmológico, preventivo de catarata. Bom, para começar, esse meu parente aguardava essa consulta desde o mês de março deste ano, portanto, seis meses. Um absurdo!
Chegamos às 7:45 da manhã, a consulta estava marcada para às 8:00 e tinha uma fila gigantesca. Nossa senha era a de número 833 e o painel registrava o número 765. Logo pensei: hoje o dia vai ser longo e difícil. Uma hora depois nossa senha aparece no painel, fomos atendidos e encaminhados ao 4º andar. Outra fila nos aguardava, desta vez para preencher um questionário. O atendente era estúpido, tinha a cara fechada, cheio de marra, parecia não gostar do trabalho. Ele gritava com os idosos que estavam desacompanhados e nem olhava para o rosto deles.
Sentamos e aguardamos a consulta. O andar começou a encher e eu me levantei para dar lugar a um senhor. Já eram 10 da manhã e não havia chegado nenhum médico. A unidade estava lotada, a maioria era de idosos com mais de 60 anos, muitos obesos, outros com suas bengalas e alguns escorados nas paredes pois já não tinha mais lugares para sentar. Havia dois aparelhos de TV ligados, um no programa Bem Estar e outro no Jornal Fala Brasil, mas ambos sem som e sem closed caption. Um tédio.
Fiquei em pé no corredor, estava lendo um livro quando fui abordado por uma senhora. Ela me perguntou:
- Moço, você pode ficar lendo aqui?
 Achei a pergunta estranha e respondi:
 - Acho que não tem problema, estou acompanhando um parente.
Ela me pediu desculpas pois achou que eu fosse o segurança do local. Não foi a primeira vez que isso aconteceu comigo. Dessa vez até que achei engraçado. 
Enfim, os médicos começaram a chegar, em grupos. Até parecia que estavam juntos. Todos sorridentes, bem vestidos e alguns tomando achocolatado, um comportamento inadequado porque há uma placa no local informando que é proibido comer e beber.  Eu, se fosse um deles, não agiria dessa forma.
O atendimento começou por volta de 11 da manhã e saímos de lá, mais ou menos, meio-dia e meia. Foram quatro horas e meia de espera.
Uma pergunta tornou-se inevitável, se os médicos só chegam às 10 horas, por quê marcam para às 8 da manhã? Que falta de respeito com os nossos idosos. Alguns podem até achar bobagem, mas não é. Se para mim, que não tenho nenhum problema, estava ruim, imagina para eles que, além da catarata, sofrem também com outros problemas.
Gostaria muito de ver um desses médicos fazendo o que o oficial do texto “Na Colonia Penal” de Franz Kafka, faz.
Um dia desses, estava assistindo a um programa de TV, era um debate sobre as eleições, alguns candidatos falando um bocado de asneiras, outro prometendo coisas impossíveis, como por exemplo; passagem de ônibus gratuita, outro falando que vai baixar o valor da passagem de ônibus para R$ 1,00 e que o caminho é estatizar tudo. Um bate-papo sem propósito. Mas, em meio a isso deram a palavra a uma senhora e ela perguntou:
- Eu gostaria de saber dos senhores o que vocês fariam se dependessem do SUS para uma internação ou para realizar exames, será que vocês sairiam vivos de lá?
Sairiam, porque, ao contrário do oficial, não acreditam tanto assim no que fazem a ponto de morrerem por isso.
Ah, e quanto ao exame de catarata do meu parente, deu negativo.




Referência:
Kafka, Franz
Na Colônia Penal / Franz kafka

Um comentário:

Marcelo Santos disse...

Que barra, Samuca!!

Desrespeito geral do poder público, dos médicos e servidores...

Abraços!


Marcelo